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Portugueses criam software para evitar erros do Excel

Uma equipa do INESC TEC e da Universidade do Minho quer acabar com erros das folhas de cálculo. Rogoff e Reinhart haveriam de agradecer.
Portugueses criam software para evitar erros do Excel

João Saraiva

Um dos efeitos colaterais mais bizarros da crise que assola a zona euro é a repentina elevação da folha de cálculo Excel à condição de estrela. Em Portugal, a coisa começou quando a oposição ao Governo acusou o ministro das Finanças, Vítor Gaspar, de gerir a crise por via de uma folha de Excel, em detrimento do combate aos motivos da degradação da economia.

Mais tarde, há poucas semanas, a zona euro ficou atónita quando alguém descobriu que um erro numa folha de cálculo Excel foi o responsável pelas conclusões aparentemente erradas a que chegou a dupla Rogoff e Reinhart quando, em 2010, anunciou ao mundo que uma dívida pública acima de 90% do PIB criaria recessão económica.

De repente, ficou a saber-se que 94% dos milhões de folhas de cálculo usados por todos os decisores quer na micro quer na macro economia incorporam erros, responsáveis por prejuízos de cerca de dez mil milhões de dólares (mais de 7,6 mil milhões de euros) todos os anos.

É para combater esta espécie de flagelo escondido que uma equipa conjunta do INESC Tec (do INESC Porto, Faculdade de Engenharia do Porto) e do HASLab (um laboratório de informática instalado na Universidade do Minho), liderada por João Saraiva, está a criar um software que evite esses erros, afinal tão recorrentes.

Os erros nas folhas de excel usadas em todo o mundo são responsáveis por prejuízos de quase 7, 6 milhões de euros todos os anos.

Ao contrário do que se poderia pensar, não foram estes casos que mediatizaram o Excel que despoletaram o interesse dos investigadores. “Trabalhamos nisto há seis anos”, disse ao Económico, para adiantar que erros grosseiros em folhas de cálculo já são detectados há muito tempo. “A venda de dez mil bilhetes para provas de natação nos Jogos Olímpicos de Londres num espaço onde só entravam mil pessoas ou o célebre envelope 9 no caso Casa Pia são alguns exemplos”.

A solução, explicou João Saraiva, é introduzir um modelo simplificado na folha de cálculo. “Sempre que são inseridos novos dados no Excel, o modelo é automaticamente actualizado”, explica o investigador. E exemplifica: “No caso do estudo de Rogoff e Reinhart [que deixou cinco países fora da amostra], sempre que um novo país fosse inserido, as fórmulas no fundo da folha de cálculo seriam automaticamente actualizadas [pelo software que está a ser criado] para que nada fosse deixado de fora”. Mas João Saraiva faz uma ressalva: “Há erros que nem mesmo a utilização de modelos permite detectar; o caso dos bilhetes das Olimpíadas não seria detectado”.

Patentear o software
O novo software de ‘salvamento’ das folhas de cálculo – cujo nome actual é MDSheet – já está prestes a ser patenteado. Segue-se depois a fase de lançamento no mercado, que deverá ocorrer de uma de duas maneiras: ou através de um ‘spin off’ a criar na própria universidade ou com o recurso “a uma empresa holandesa com a qual já estamos a trabalhar”. Segundo disse João Saraiva, a decisão final deverá ocorrer ainda antes do Verão, altura em que o software deverá chegar ao mercado.

João Saraiva e a sua equipa estão conscientes de que o produto que estão a criar não é uma novidade absoluta: “Há outras soluções no mercado, mas nenhuma chega ao que a nossa consegue”.

No meio de erros e soluções, o investigador só não tem a certeza de uma coisa: “Talvez Rogoff e Reinhart tivessem chegado à conclusão a que chegaram mesmo que tivessem detectado o erro”, diz, no meio de uma gargalhada jocosa. E de facto, na passada sexta a dupla de economistas publicou uma errata, mas as conclusões não destoaram das originais.

Diário Económico, 13 de maio de 2013

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