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O que falta às empresas nascidas nas universidades?

Um projeto europeu, que envolveu o INESC TEC e agora terminou, debruçou-se sobre diversos casos de empresas nascidas nas universidades e politécnicos em Portugal, Holanda, Polónia e Finlândia, e chegou à conclusão que os spin-offs têm dificuldade em obter financiamento e em chegar com sucesso aos mercados estrangeiros.

ESTUDO DO INESC TEC IDENTIFICA PRINCIPAIS ENTRAVES AO SUCESSO DE SPIN-OFFS ACADÉMICOS

A área das vendas, pouco valorizada pelos empreendedores académicos, é um dos principais fatores que dificultam o crescimento deste género de empresas de base académica. O estudo foi elaborado para a Comissão Europeia e apresentado na 8ª Conferência de Inovação e Empreendedorismo, em Bruxelas.

Ao contrário do que seria de esperar, as empresas baseadas no know-how das instituições superiores de ensino (empresas montadas por professores ou por estudantes que quiseram implementar o seu projeto fim de curso – transferência de conhecimento do ensino superior para o mundo dos negócios) crescem pouco. Na amostra Spin-Up o crescimento médio registado por empesa foi de 1,6 recursos humanos a tempo inteiro por ano.

Que aptidões faltam aos empreendedores em empresas começadas na academia, e como contrariar esta tendência?

As dificuldades na própria gestão dos recursos humanos e na área das vendas, bem como a falta de conceitos económicos e de literacia financeira, contam-se entre os principais fatores descritos no estudo “Spin-up: A comprehensive program Aimed to Accelerate University Spin-Off Growth” como aqueles que têm motivado um crescimento lento das empresas de base universitária.

Os spin-offs académicos têm uma visão muito técnica do negócio e descuram a vertente comercial, o que afeta o crescimento das empresas. “Ter um bom produto não chega se ninguém o comprar”, refere o investigador da Unidade de Inovação e Transferência de Tecnologia (UITT) do INESC TEC Manuel Au-Yong Oliveira que, juntamente com Alexandra Xavier e João José Pinto Ferreira, integra a equipa do INESC TEC, um dos parceiros portugueses do estudo.

“Verifica-se que a área das vendas tem uma conotação negativa. Os empreendedores académicos têm muitas vezes a expetativa de que o produto se vende sozinho e por isso não apostam, em especial desde o início, em profissionais especializados nesta área, nem em estudos prévios de recetividade dos produtos e serviços pelo mercado, por exemplo em termos do preço a praticar”, acrescenta o investigador. Saber vender é, assim, essencial para desenvolver marcas e pessoas capazes de aplicar princípios de venda científicos e frequentemente os promotores descuram esse lado do negócio.

É preciso saber vender o produto

Outro entrave ao crescimento das empresas empreendedoras nascidas na academia, identificado no estudo é a angariação de capital. A crise financeira internacional tem prejudicado, de certa forma, a alavancagem de novas empresas, já que tem feito com que os investidores se retraiam. As empresas que dependem do mercado interno estão entre as principais afetadas por este ‘ecossistema’ económico negativo e os spin-offs nacionais não fogem à regra: “Portugal tem graves problemas de escala. Somos 10 milhões e o país está com dificuldades económicas”, explica Manuel Au-Yong Oliveira.  

Neste sentido, o estudo permitiu ao investigador identificar bastantes semelhanças entre os quatro países que foram analisados. Portugal, Polónia, Finlândia e Holanda “têm aptidões de liderança muito semelhantes, incluindo descentralização das decisões, visão de longo prazo, pretender o bem do todo, realizar encorajamento, fornecimento de informação e aprendizagem”, conclui.

O estudo foi elaborado para a Comissão Europeia e apresentado na 8ª Conferência de Inovação e Empreendedorismo, em setembro, em Bruxelas. A amostra de entrevistados e/ou inquiridos incluiu 99 CEOs de spin-offs académicos dos quatro países já referidos: Portugal, Holanda, Polónia e Finlândia. Além do INESC TEC, participou, em Portugal, a Advancis Business, empresa de consultoria especializada em gestão de recursos humanos e formação avançada. Os parceiros internacionais foram a Leaders2Be, a Universidade Técnica de Delft (ambas da Holanda) e a Universidade de Tecnologia de Lappeenranta (Finlândia). O projeto Spin-Up foi financiado pela Comissão Europeia no âmbito do Programa Erasmus (cooperação entre Empresas e Universidades).

Ciclo de workshops Spin-UP

Ainda no âmbito do projeto europeu Spin-Up, o INESC TEC organizou um ciclo de workshops, que terminou em setembro, dedicado à problemática do crescimento e desenvolvimento de spin-offs universitários. Este ciclo teve como objetivo dotar os participantes de competências empresariais-chave, essenciais ao crescimento e alavancagem de spin-offs universitários.

“Inovação, Marketing e Vendas”, “Estratégia”, “Planeamento Financeiro”, “Internacionalização” e “A Gestão de Recursos Humanos e a Liderança” foram os temas das sessões, com as quais a UITT pretendeu “dar um empurrãozinho aos empreendedores, portugueses mas não só, e ajudá-los a chegar mais longe”, diz Manuel Au-Yong Oliveira. Estão já a ser programadas novas formações do mesmo género para o próximo ano.

Os investigadores com ligação ao INESC TEC referidos nesta notícia tem vínculo às seguintes entidades parceiras do Laboratório Associado: INESC Porto e FEUP.

Créditos Foto 2: Flickr

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