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O que é a bombagem hidroeléctrica e quais os seus benefícios

As centrais de bombagem operam em mercado, adquirindo electricidade nos períodos de vazio, a baixo preço, para fazer funcionar os motores das bombas.


Por João A. Peças Lopes*

A bombagem hidroeléctrica é utilizada há dezenas de anos para apoiar a gestão do sistema eléctrico. Quando existe excesso de capacidade de produção de electricidade em períodos de baixo consumo, recorre-se a esta solução para transferir electricidade de uns períodos para outros, através da bombagem de água de um reservatório inferior para um outro situado a uma altura mais elevada.

A bombagem hidroeléctrica é utilizada em particular em situações em que as restrições técnicas de exploração das centrais térmicas não permitem a adaptação da sua produção à variação do consumo. Tal ocorre, por exemplo, em sistemas com grande produção de electricidade a partir de energia nuclear, uma vez que estas unidades não apresentam flexibilidade de operação para se adaptarem a baixos níveis de carga das horas nocturnas. Foi esta situação que motivou os grandes investimentos feitos em Espanha em centrais de bombagem nas décadas de 70 e 80 para assim viabilizar a produção nuclear. Em alguns sistemas, com o crescimento da produção de electricidade de origem eólica, passou a ocorrer uma outra situação, associada a períodos onde existe excesso de recurso eólico face ao nível de consumo. Apesar de, neste caso, ser possível desligar ou reduzir a produção dos aerogeradores, o que não é possível no caso das centrais nucleares, estaríamos a desperdiçar uma energia renovável, sendo normalmente mais interessante proceder antes ao seu armazenamento.

Por outro lado, os sistemas de bombagem apresentam hoje em dia uma grande flexibilidade de operação, podendo reagir rapidamente a variações do consumo ou da produção, em particular a que apresenta características de variabilidade, como é o caso da produção eólica, disponibilizando um serviço adicional que consiste na capacidade de compensação de desvios em relação às previsões, o que se traduz numa valia acrescida, em particular para sistemas onde a componente eólica é significativa, como é o caso de Portugal.

As centrais de bombagem operam em mercado, adquirindo electricidade nos períodos de vazio, a baixo preço, para fazer funcionar os motores das bombas, entregando depois a electricidade ao sistema, nos períodos de grande consumo em que o preço da electricidade é mais elevado. É facilmente demonstrável que este ciclo de exploração é economicamente interessante desde que o preço da electricidade nas horas de ponta seja superior ao quociente entre o preço da electricidade nas horas de vazio e o valor do rendimento do ciclo de funcionamento da central. Tipicamente o rendimento destas instalações varia entre 70% e 80%, o que, tendo em conta a gama de variação dos preços de mercado nas horas de vazio, permite a uma central de bombagem entregar electricidade à rede numa gama de valores entre 25 e 45 €/MWh. Refira-se que o preço de mercado para os correspondentes períodos de ponta é tipicamente bastante superior a estes valores. Tal significa assim que, ao colocar em mercado às horas de ponta esta produção hídrica, se evita a utilização de centrais térmicas mais dispendiosas e que produzem mais emissões, levando à formação de um preço de mercado menor, traduzindo-se tal num benefício extensível a todos os consumidores que assim pagarão a electricidade neste período a um preço inferior.

Dadas as características do actual sistema electroprodutor português, só com investimentos em maior capacidade de armazenamento com bombagem é possível tirar todo o partido da energia limpa e sustentável que obtemos das eólicas. Com efeito, tal permite minimizar o eventual desperdício de produção de electricidade de origem renovável, reduzir as emissões de CO2, garantir a segurança operacional, contribuir para a redução da dependência energética do país e conseguir reduzir o preço da electricidade às horas de ponta.

*Professor Catedrático da FEUP e Investigador do INESC TEC

 Jornal i, 21 de agosto de 2012

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