NATO veio recrutar a Portugal
Por trás de um teatro de guerra há sempre uma operação logística de proporções dificilmente imagináveis. Como a maioria dos exércitos que combate nesses palcos não cessa funções em tempo de paz, a logística enquanto operação sofisticada e necessariamente eficaz também não acaba. As operações das tropas da NATO são, neste quadro, de uma complexidade assinalável e encontrar um emprego nas áreas que estão a montante do exército é uma saída profissional que quase ninguém sequer sonha que existe - excepção feita aos 29 portugueses que neste momento trabalham na logística do exército com 28 países.
Mais especificamente, estes 29 portugueses trabalham na NSPA (NATO Support Agency) - e neste momento há 13 novas ofertas de emprego em aberto. Desde logo, a concorrência é grande: o primeiro critério de selecção é a necessidade de os candidatos serem naturais de um dos 28 países que integram a NATO - pelo que há com certeza mais de mil milhões de potenciais candidatos. Ou nem tanto: os candidatos têm de ter entre 21 e 60 anos.
Depois, é só escolher. As áreas são as mais diversas - desde a engenharia de computação até à consultoria para o sector energético - mas todos os candidatos tem inicialmente que preencher o formulário de candidatura no site da agência (www.nspa.nato.int). Em alguns casos - que os serviços de recepção das candidaturas informarão - será necessário que os candidatos respondam a um questionário médico ou mesmo apresentem um certificado de habilitação de segurança.
Se as candidaturas - apresentadas sempre em inglês ou francês, línguas que os proponentes têm que dominar (pelo menos uma) - forem aceites, os candidatos são chamados a uma entrevista com pelo menos dois responsáveis da agência. Uma vez ultrapassada esta etapa, o oficial de ligação (um militar que está em permanência na NATO) do país dos candidatos é informado da contratação do conterrâneo e deverá acompanhá-lo nos primeiros passos do novo emprego. "Simples, transparente e uma alternativa interessante", como afirmou o Comandante Pestana da Costa (o oficial de ligação português junto da agência), num seminário de divulgação organizado na passada semana no Porto pelo Ministério da Defesa.
Uma última preocupação: cinco das 13 vagas a concurso podem ter como local de emprego o... Afeganistão. Talvez o ordenado compense: o salário base é de 2.400 euros e no final da carreira pode ascender a mais de dez mil.
Vários oficiais da NATO estiveram presentes durante os trabalhos, altura em que tiveram oportunidade de aliciar as empresas portuguesas a tornarem-se fornecedores da agência. A inscrição é muito simples (faz-se também no site) e as empresas são, conforme as suas características específicas, convidadas a participar nas compras da NSPA - que, só em 2013, gastou na logística que suporta as actividades da NATO qualquer coisa como 2,36 mil milhões de euros. As empresas portuguesas responderam por apenas 0,05%.
Diário Económico, 2 de junho de 2014