INESC TEC participa em projeto europeu para explorar minerais em zonas subaquáticas
Projeto pioneiro de €12,6M está a ser desenvolvido no âmbito do programa horizonte 2020
INESC TEC, Minerália e EDM são os três parceiros portugueses do projeto ¡VAMOS!
O projeto de Investigação & Desenvolvimento (I&D) ¡VAMOS! (Viable Alternative Mine Operating System), que se iniciou no passado mês de fevereiro, vai ter a duração de 42 meses e envolve em Portugal três parceiros, o INESC TEC, a Minerália e a Empresa de Desenvolvimento Mineiro (EDM).
O objetivo do projeto consiste no desenvolvimento de tecnologias, nomeadamente de um protótipo robótico para exploração subaquática e equipamento associado de lançamento e recolha, que permitam minerar depósitos de matérias-primas, habitualmente designados por “minas de céu aberto”, em que o minério se distribui preferencialmente na forma vertical.
A maioria destas minas foram sendo abandonadas nas últimas décadas, quer por insustentabilidade económica face às técnicas disponíveis VS riqueza do depósito e variações de preço no mercado, quer por insustentabilidade ambiental, face ao contínuo conflito na ocupação dos espaços entre estes aglomerados industriais e aglomerados habitacionais.
Como surgiu o ¡VAMOS! ?
Nos últimos anos algumas das entidades (empresas, institutos de I&D e instituições de Ensino Superior) pertencentes a este consórcio têm vindo a colaborar no desenvolvimento de tecnologias que permitam a mineração remota em ambientes subaquáticos.
A maioria das entidades participantes já se tinha comprometido em investir esforços junto da parceria europeia estratégica (EIP) para as matérias-primas. Por isso, quando surgiu a chamada para as propostas de projetos no âmbito do H2020 para incentivar a mineração na Europa, este consórcio já estava preparado para submeter uma proposta de trabalho de investigação nesta área.
Testes vão ser feitos em quatro locais diferentes na União Europeia
As tecnologias vão ser testadas em dois locais portugueses, na mina de S. Domingos no Alentejo, na mina da Bejanca, na zona central de Portugal, a 12 quilómetros de Viseu, na zona da rebentação da costa do Reino Unido na baía de St. Ives, e por fim em Vareš na Bósnia e Herzegovina.
No entanto, a convicção é de que estas tecnologias sejam exploradas no futuro por toda a Europa e todo Mundo.
Importância de fazer exploração subaquática em minas terrestres
“As minas que endereçamos para aplicar esta tecnologia são aquelas cuja distribuição espacial do material a minerar é vertical ou semi vertical e simultaneamente possuem um nível freático elevado. Para podermos retirar o material para ser processado necessitamos, por um lado, de retirar grandes quantidades de material não desejado e, para a equipa de extração aceder a níveis cada vez mais profundos, necessitamos, por outro lado, de bombear continuamente a água da mina. Consequentemente o material não desejado e a água retirada da mina são depositados em barragens de rejeito, que com o tempo se transformam em possíveis ameaças ambientais”, refere Eduardo Silva, coordenador do Centro de Robótica e Sistemas Inteligentes (CROB) e responsável pelo ¡VAMOS! por parte do INESC TEC.
Mas existem várias vantagens para aplicação da solução em desenvolvimento que sumariamente podem ser referidas. Por exemplo:
- O perigo de um acidente e a exposição dos trabalhadores aos ambientes nocivos da mina desaparece, pois estes passam a trabalhar remotamente;
- Desaparece a necessidade de efetuar explosões para aceder ao material a extrair, evitando-se os riscos de dano estrutural das paredes da mina, bem como os ruídos e as vibrações para as populações que habitam na vizinhança da mina;
- Desaparece a necessidade de utilizar grandes meios logísticos para a operação na mina;
- Desaparece o pó nas vizinhanças em virtude de operação ser subaquática;
- Evitam-se descargas da água da mina e outros problemas hidrológicos.
De acordo com Eduardo Silva, existem ainda outras vantagens de carácter económico e técnico que, com o tempo e a implementação da solução, serão evidentes.
Know-how INESC TEC
“O papel do INESC TEC neste projeto vai consistir, por um lado, na melhoria da tecnologia de perceção, navegação, posicionamento e consciência espacial em ambientes subaquáticos, e por outro, na garantia de uma solução integrada para a monitorização, em tempo real, dos parâmetros associados a um impacto ambiental”, explica o investigador.
A EDM e a Minerália são responsáveis por providenciar acesso a dois dos locais de teste em ambiente terrestre submerso em Portugal.
A Europa importa anualmente 200 milhões de toneladas de minérios
O fundamental para a abordagem do ¡VAMOS! é o facto de a maioria dos depósitos de minerais na Europa estar em estratos aquíferos. Esta técnica permite operar remotamente os equipamentos e não afetar o lençol freático local. Jazidas atualmente inacessíveis, minas abandonadas ou alagadas e novas minas podem ser exploradas com este método.
“A Europa tem exercido atividade mineira ao longo dos anos, mas as zonas mais profundas continuam por explorar. O valor dos recursos minerais por explorar na Europa a uma profundidade entre os 500 e os mil metros é de cerca de 100 mil milhões de euros”, recorda Eduardo Silva.
A União Europeia consome entre 25 a 30 por cento da produção de metais no mundo, enquanto a extração de metais na União Europeia representa apenas três por cento da produção mundial. Estima-se que a Europa importe anualmente 200 milhões de toneladas de minérios.
“A Europa depende do exterior em cerca de 74 por cento em relação ao cobre, em 86 por cento quanto ao níquel e em 100 por cento quanto a minerais como antimônio, cobalto ou tungsténio, entre muitos outros”, exemplifica o investigador.
Consórcio é composto por 17 parceiros
Sob a coordenação do BMT Group Ltd e gestão técnica do Soil Machine Dynamics Ltd, o projeto conta com um consórcio de 17 parceiros pertencentes a nove países europeus – INESC TEC, Minerália Lda e Empresa de Desenvolvimento Mineiro SA (Portugal), Soil Machine Dynamics Ltd, Fugro EMU Limited, Marine Minerals Ltd (Reino Unido), Damen Shipyards Group e Trelleborg Ede Bv (Holanda), Zentrum für Telematik e.V. e Sandvik Mining and Construction G.m.b.H (Alemanha), Montanuniversität Leoben (Áustria), Geological survey of Slovenia (Eslovénia), La Palma Research Centre for Future Studies (Espanha), European Federation of Geologists (Bélgica), Federalni zavod za Geologijo e Fondacija za obnovu I razvoj regije Vareš (Bósnia e Herzegovina).
Este consórcio europeu envolve uma equipa de cerca de 100 técnicos e investigadores.
No INESC TEC o projeto vai ser liderado pelo CROB, com a coordenação de Eduardo Silva, e vai contar com a participação do Centro de Fotónica Aplicada (CAP).
O investigador com ligação ao INESC TEC referido nesta notícia tem vínculo à seguinte entidade parceira: IPP.
Créditos Fotos:
- Foto capa – Mineweb;
- Fotos 1,4, 5, 7 - Flickr
- Foto 2 – Dinheiro Digital
- Foto 3 – Sul informação;
- Foto 6 – LSA/ISEP
- Foto 8 - Nautilus Minerals Inc;
- Foto 9 – Project ¡VAMOS!;
- Foto 11 – The Global Mail.
INESC TEC, março 2015