INESC TEC cria robô pintor que vê e aprende
Próximo passo é exportação para o Brasil
Aumentar a produtividade e mesmo libertar os operários especializados, colocando-os em tarefas mais nobres, conquistar vantagens competitivas, evitar tarefas repetitivas e o contacto continuado com ambientes nocivos para a saúde são os principais objetivos deste equipamento inovador. O próximo passo é a exportação para mercados externos emergentes.
Tecnologia portuguesa marca pontos
É na empresa nortenha FLUPOL que está já a ser usada esta tecnologia inovadora com “mão” do INESC TEC. A FLUPOL é uma PME que opera no setor da Engenharia de Superfícies, executando revestimentos funcionais antiaderentes, anticorrosivos e autolubrificantes, o que requer um elevado grau de especialização dos seus operadores, bem como uma grande flexibilidade dos meios de produção. São normalmente necessários oito anos para a formação especializada de um operário fabril, algo que se deve às exigências dos processos utilizados na empresa, mas com o sistema autónomo desenvolvido pelo INESC TEC essa realidade deixa de existir.
Sem interferência direta de um programador, cada manipulador robótico pode ser programado diretamente pelo próprio operário especializado, que prepara o equipamento para várias séries de movimentos que irão tratar uma vasta gama de peças. De acordo com António Paulo Moreira, coordenador da Unidade de Robótica e Sistemas Inteligentes (ROBIS) do INESC TEC, “o operador consegue criar um programa para o manipulador (robô) apenas demonstrando a operação a ser executada”. Para o investigador, trata-se “de uma forma muito mais simples, rápida e eficaz de programar manipuladores do que as formas tradicionais”. Mas não se pense que o robô é apenas capaz de replicar uma determinada operação; o robô consegue ainda identificar cada peça e revesti-la selecionando o programa mais adequado, previamente ensinado.
Mais do que uma poupança ao nível dos anos de formação necessários, o sistema vai libertar os operários especializados de tarefas manuais repetitivas que podem causar lesões por esforço contínuo, e ainda minimizar situações de contacto com ambientes nocivos (tintas, dissolventes) para a saúde dos trabalhadores. Desta forma, o know-how dos operários é utilizado sem o constrangimento da diminuição de capacidade física. Tudo isto permite aumentar a produtividade dos operários especializados, outra das mais-valias deste projeto. Este projeto foi, portanto, o caminho para se conseguirem vantagens competitivas, levando o “laboratório” para a “fábrica”.
Traçando o caminho para o Brasil
A FLUPOL é a primeira empresa portuguesa a adotar um manipulador robótico que usa visão artificial para reproduzir movimentos humanos. E ao poupar o tempo de formação necessário, esta PME, localizada no Concelho de Valongo, conseguirá aumentar a sua atividade e começar a agilizar o processo de exportação de unidades de produção para mercados-chave. Um dos mercados-chave identificados por José Bandeira, CEO da FLUPOL, é o Brasil. Isto acontece porque preço do produto vai excluir, com uma fábrica no Brasil, custos de distribuição e taxas alfandegárias, o que o torna bastante competitivo.
Esta empresa é já líder a nível nacional, exportando já mais de 75% do que produz, maioritariamente para as indústrias automóvel e alimentar. Isto é resultado da falta de dimensão crítica do mercado nacional que obriga a empresa a depender do mercado externo. Para José Bandeira, existe uma necessidade de expansão, através da replicação de unidades industriais em países emergentes, “sem nunca comprometer a flexibilidade do sistema produtivo, e muito menos a qualidade dos serviços”. “Isso é de difícil satisfação se mantivermos o processo tradicional de formação de operadores”, afirma. A tecnologia vai então permitir à FLUPOL “ultrapassar esse handicap, transformando manipuladores robotizados em aprendizes com rápida velocidade de progressão”, esclarece José Bandeira.
De acordo com o CEO da empresa, a participação do INESC TEC neste projeto foi “fundamental e sem este Instituto não teria sido possível desenvolver este projeto”, considerando que a tecnologia de base – o sistema de aprendizagem por demonstração, o sistema de reconhecimento de peças por laser e o sistema de gestão de programas de pintura – “foi integralmente desenvolvida por investigadores do INESC TEC”, acrescenta.
Uma estratégia de diferenciação
O SMARTPAINT nasceu no âmbito do projeto SIIARI (Sistema para o Incremento da Inteligência Artificial em Robótica Industrial), desenvolvido por um consórcio liderado pela FLUPOL, e que conta com a expertise de duas Unidades do INESC TEC, designadamente a Unidade de Robótica e Sistemas Inteligentes (ROBIS) e a Unidade de Engenharia de Sistemas de Produção (UESP). O consórcio inclui ainda a Companhia de Equipamentos Industriais (CEI) e a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP).
A eficácia da célula robótica foi já comprovada numa apresentação pública que se realizou no dia 12 de novembro nas instalações da FLUPOL, e que contou com a presença de representantes de todos os membros do consórcio. Os visitantes tiveram a oportunidade de assistir a uma apresentação sobre o projeto e de ver a tecnologia em funcionamento. Já eram conhecidas as competências do INESC TEC no desenvolvimento de sistemas autónomos. E com este equipamento, mais do que a experiência do INESC TEC em duas áreas-chave – a robótica e a engenharia de produção – confirmam-se os benefícios que a união destas vertentes pode trazer para a indústria nacional.
A utilização deste tipo de equipamento pode ser particularmente benéfica para as PME, ainda mais num momento de crise económica como a que o país atravessa. Quem o confirma é José Bandeira, que se diz um “convicto apoiante dos resultados do famoso relatório Porter, segundo o qual deveríamos assentar o nosso crescimento no que sabemos fazer bem. O SIIARI vai permitir-nos replicar o que sabemos fazer bem com fiabilidade e mantendo a ‘arte’”, adianta. António Paulo Moreira partilha da mesma opinião, afirmando que a junção destas duas áreas de excelência no INESC TEC para criar projetos deste tipo, algo que confirma cada vez mais a transversalidade da investigação deste instituto, é o caminho para “aumentar a produção nacional e permitir que a robótica entre nas pequenas e médias séries de produção”, finaliza.