Fora de Série - Pedro Almeida
1. Dos 16 secretários do INESC TEC, o Pedro Almeida é o único homem. Que tal está a ser a experiência de ser um homem entre mulheres?
Perfeita. É um daqueles casos em que me parece bem vantajoso estar em desvantagem! Como estudei na Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP), tive algum treino anterior. Mas na verdade, e também porque até novembro do ano passado o Laboratório de Inteligência Artificial e Apoio à Decisão (LIAAD) teve as suas próprias instalações em Ceuta, o essencial do contacto do dia a dia fez-se com os colaboradores da própria unidade, que no LIAAD são maioritariamente homens. O meu contacto com o Secretariado e com os restantes Serviços de Apoio do Laboratório Associado raramente se fez face a face. Muito telefone, muito correio eletrónico.
2. O Laboratório de Inteligência Artificial e Apoio à Decisão (LIAAD) integrou o Laboratório Associado coordenado pelo INESC Porto em 2007. Como foi a adaptação aos nossos procedimentos internos?
No período entre 2007-2011, o apoio secretarial foi garantido, em períodos distintos, pela Sónia Pinto e pela Lídia Vilas Boas. A minha ligação ao LIAAD também remonta a 2007, mas tratando apenas os assuntos com a instituição de acolhimento anterior. Portanto, foi à Lídia e à Sónia que coube a árdua tarefa de “educar” os membros do LIAAD com projetos a correr no INESC Porto. Obviamente, eu beneficiei desta situação quando assumi essa função em novembro de 2011.
Quanto a mim, compreender os procedimentos não foi difícil, no sentido em que nunca me pareceram descabidos ou sem sentido. Podendo muitas vezes parecer pesados ou excessivos – burocráticos é o que mais se ouve, no sentido mais negativo do conceito -, aceito-os e entendo que derivam das regras estabelecidas pelas entidades financiadoras, às quais não se pode fugir.
Muito mais difícil foi – e ainda é, admito – aprendê-los e apreendê-los, ou seja, tomar conhecimento deles e, em tempo útil, implementá-los. É que apesar do esforço anterior, uma parte substancial da equipa do LIAAD só iniciou ligação ao INESC Porto no último ano. São cerca de 35 colaboradores que, portanto, também não estavam familiarizados com os procedimentos internos, com dúvidas legítimas, às quais nem sempre consegui responder em tempo útil. Muitas vezes o problema surge, não nos procedimentos internos, mas na comunicação dos mesmos. Digamos que esse é um aspeto onde concentro mais esforços e tento melhorar.
3. Como é que caracterizaria o processo de integração do LIAAD no INESC TEC? Sentiu algum choque de culturas?
O processo de integração foi muito facilitado pela vontade, de ambos os lados, em levar esta integração a bom porto. Do ponto de vista do LIAAD, penso que, paradoxalmente, a integração pode permitir um reforço de uma cultura/identidade LIAAD. O LIAAD tem vários polos com colaboradores das Faculdades de Economia e de Ciências da Universidade do Porto (FEP e FCUP), bem como colaboradores em várias Instituições do Ensino Superior como a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), o Instituto Politécnico de Viana do Castelo (IPVC), Universidade da Beira Interior (UBI), etc.. Vejo o LIAAD como um adolescente a construir a sua identidade. Com esta integração, há menos riscos de construção de uma identidade difusa.
Não posso deixar de referir que onde sinto um choque de culturas é na comparação entre o INESC TEC e a nossa instituição de acolhimento anterior. Aqui há, de facto, uma cultura organizacional e uma orientação: fazer Ciência, ou melhor, facilitar a investigação científica. Quando olho para os Serviços de Apoio, vejo o objetivo claro de permitir que os investigadores investiguem. Não estou seguro de que haja sequer esse pensamento noutras instituições.
4.Mais recentemente, uma parte do LIAAD integrou o edifício do INESC Porto. Que tal tem sido a receção?
Ótima! Para além das excelentes condições de trabalho, fomos muito bem acolhidos. Admito que trabalhar em plena baixa do Porto tem várias vantagens, especialmente no verão. Não faltam esplanadas para tomar um cafezinho! Mas estou satisfeito com esta solução, que é também a que me parece mais lógica e “natural”.
5. O Pedro teve um papel fundamental na mudança das instalações do LIAAD da Rua de Ceuta para o edifício do INESC Porto. Qual foi o principal desafio dessa fase de transição?
Para mim, o desafio esteve mais nos sujeitos e menos nos objetos. O transporte das coisas foi o mais fácil, o mais difícil foi saber o que trazer. Foram muitos anos nas mesmas instalações e é giro observar o diferente apego às coisas que cada um desenvolve. Se alguns colaboradores só trouxeram o essencial, outros até os caixotes do lixo trouxeram! Mas só posso referir que o transporte das coisas foi o mais fácil devido à preciosa ajuda e paciência do Serviço de Gestão de Infraestruturas (SGI) e mais particularmente do Carlos Costa e do Sr. Ribeiro, a quem tenho que deixar o meu agradecimento. Com eles, o processo tornou-se muito mais facilitado. Foram muitas horas e muitas viagens para Ceuta, poupando tempo e recursos a todos.
6. A integração do LIAAD no edifício do INESC Porto veio facilitar o seu trabalho de alguma forma?
Sem dúvida, só facilitou. O LIAAD ficou com menos um polo no Porto, isolado na baixa, para se concentrar essencialmente no Campus da FEUP/FEP e FCUP. Anteriormente, até o contacto com os docentes da FEP/FEUP era um pesadelo: alguém tinha que ir da FEP para a baixa ou vice-versa, perdendo facilmente horas de trabalho. Mas mais do que isso, estamos agora integrados no edifício juntamente com os serviços de apoio, o que facilita a comunicação e a resolução rápida de problemas. Sinceramente, há colaboradores do INESC Porto com quem falei provavelmente todas as semanas durante um ano que só conheci graças à mudança de instalações, um ano depois!
7. Qual era a imagem que tinha do INESC TEC antes desta integração física no edifício do INESC Porto? Esta imagem mantém-se?
Apesar de ser de Ciências Sociais, não sou cientista, sou secretário. A imagem que tinha do INESC TEC era a que recebia do contacto que tinha com os colaboradores que integravam e integram os Serviços de Apoio. Portanto, era a mesma que é hoje: excelente. Caí aqui um pouco de paraquedas e só sobrevivi pela manifesta competência social e técnica de pessoas, que não me conhecendo, tiveram a tolerância de me aturar e a paciência para me ensinar. Se cometes um erro, não te apontam o dedo, antes procuram uma solução. Se hoje respondo a este questionário é essencialmente por causa dessas pessoas a quem tenho muito que agradecer.
8. O coordenador do LIAAD, Alípio Jorge, também destaca o papel do Pedro como “facilitador”, no âmbito da sua função de secretário/assessor do LIAAD. Na sua opinião, qual é o papel do secretariado para o sucesso das atividades de I&D e de consultoria das Unidades do INESC TEC a que estão alocados?
Nos dias maus, tenho a sensação que somos infantaria em plena guerra de trincheiras. Nos dias bons, somos o rosto visível do sucesso da unidade.
Para mim, o secretariado tem que ter duas características que considero interessantes: multitarefa e competências sociais. Antes de mais, deve ter a capacidade de não se dispersar mesmo quando há três pessoas à sua frente a pedir seis coisas diferentes. Portanto, tem que ser uma espécie de dispositivo multitasking, com memória suficiente para não perder tarefas. Eu sei que pareço estar a descrever um smartphone, mas um smartphone ainda não tem sentimentos (acho eu, mas se calhar alguém do universo INESC TEC vai corrigir-me). Isto leva-nos à segunda competência, que é criar disposições para lidar com pessoas com posturas completamente diferentes diante de nós e dos problemas que surgem. É necessário conseguir comunicar com o mínimo de distorção e sem perder a razão e o sentido.
Quem consegue fazer isto, torna-se uma mais-valia para as unidades. Há pelo menos 15 secretárias que conseguem!
9. De que forma é que o seu papel como secretário/assessor do LIAAD tem vindo a crescer, desde que abraçou essa função?
Eu comecei por ir para o LIAAD em 2007, por sugestão do Prof. Luís Torgo, para editar a Base de Dados de publicações do LIAAD sobre a supervisão do Prof. Pavel Brazdil, coordenador do LIAAD nessa época. Era suposto serem seis meses em part-time. Como estava a acabar o curso, pareceu-me exequível e simples.
A verdade é que o Prof. Pavel achou que eu podia ser útil no apoio à unidade, e mesmo com sacrifícios pessoais, por lá me manteve e por cá continuo. Perdeu algum (bastante!) tempo comigo, mas graças a ele hoje estou integrado no LIAAD/INESC TEC. Aproveito para lhe agradecer a confiança e amizade.
10. O que é que o motiva a trabalhar no LIAAD/INESC TEC?
Antes de mais, há um sentimento de gratidão pelas pessoas do LIAAD que apostaram em mim. Mas, para além disso, quando me perguntam porque gosto do que faço, costumo referir a melhor Série de TV que já vi até hoje, o “The Office” do Ricky Gervais, um documentário ficcional de uma organização onde se vende papel. Aqui não se vende papel, sem menosprezar ou querer menorizar quem o faz, aqui serve-se a Ciência. Não dá para ficcionar um documentário.
11. Terminaremos este breve questionário, pedindo que comente a seguinte declaração de Alípio Jorge, coordenador do LIAAD, que o nomeou para esta distinção.
O Pedro Almeida distingue-se pelo seu espírito de serviço, elevada responsabilidade, educação e, não menos importante, resultados práticos. O Pedro tem sido um apoio muito importante à coordenação atual e anterior da unidade. Confiar no Pedro como sendo capaz de tratar de assuntos de elevada responsabilidade deixa-me com uma disponibilidade que seria difícil de ter noutra situação. Esse elevado grau de autonomia não o impede de colocar as questões importantes à consideração, sempre que pertinente. O Pedro é, sobretudo, um facilitador.
Na mudança física do LIAAD, o Pedro teve a responsabilidade logística de a coordenar, com todas as pequenas e grandes preocupações que isso traz e com sacrifício pessoal. Sempre disponível dentro e fora de horas de serviço. Sempre com muitas outras coisas urgentes para tratar. Sempre acreditando que o próximo mês já vai ser um sossego.
Agradeço profundamente as palavras do Alípio e esta amabilidade que teve para comigo. Levo bastante a sério, como não poderia deixar de ser, o que ele me diz, mas não me levo muito a sério. Faz parte do meu modo desajeitado de ser. Considero, no entanto, que o verdeiro facilitador é o próprio Alípio, que tal como muitos outros docentes, cai no disparate de ter três empregos: docente, investigador e gestor de ciência. O meu objetivo é só libertar alguma dessa carga!