Fora de Série BIP 147 - Pedro Jorge
ESTE MÊS FALAMOS COM...PEDRO JORGE (UOSE)
1. O Pedro Jorge está prestes completar duas décadas de ligação ao INESC TEC. Como vê o crescimento da instituição, tanto no plano geográfico, como no plano das áreas de competência?
O crescimento do INESC TEC, enquadrado no seu estatuto de Laboratório Associado, foi algo natural e necessário numa instituição que pretendia ocupar o seu lugar como uma referência nacional e internacional em várias áreas da ciência e tecnologia.
Neste contexto, o alargamento das áreas de competência era algo que se impunha. O alargamento geográfico, por outro lado, incluindo outras instituições do Minho e de Trás-os-Montes, tem um carácter estratégico importante, pois dá ao INESC TEC um papel de agregador das forças regionais, numa altura em que se assiste a um rearranjo das instituições académicas a nível nacional.
Com o crescimento o INESC TEC ganhou força mas perdeu alguma agilidade. É importante que haja agora uma fase de consolidação e amadurecimento e uma maior articulação interna para tirar partido das novas competências. Vê-se mais do que nunca um grande esforço para que essa articulação interunidades aconteça. Acho isso muito positivo e acho que é a direção a seguir.
2. De que forma a atividade de investigação que desenvolve na Unidade de Optoeletrónica e Sistemas Eletrónicos (UOSE)/INESC TEC enriquece a sua atividade como docente do Ensino Superior?
Apesar de já ter dado aulas em diferentes instituições, não sou docente; sou Investigador Contratado. No entanto, tenho uma atividade intensa de orientação em Mestrados e Doutoramentos que só é possível pelo seu enquadramento na atividade de investigação.
O Investigador Contratado é uma nova espécie no INESC TEC, possibilitada pelo estatuto de Laboratório Associado. Esta força de trabalho de investigadores a 100% teve um papel essencial no crescimento em tamanho e qualidade do INESC TEC e de outras instituições do Sistema Científico Nacional.
Infelizmente, com a mudança de políticas e a crise, o suporte com fundos públicos está a desaparecer e somos uma espécie ameaçada (na UOSE passamos de 9 para 3). Neste momento, por força das circunstâncias, somos encarados como um problema de tesouraria. Parte do processo de amadurecimento de que falei acima passa por a Instituição decidir o tipo de quadros que quer ter e que estratégia deve adotar para a sua sustentabilidade.
3. A UOSE é a Unidade com um maior índice de produção científica. Qual é a importância deste contributo no âmbito de uma instituição de interface entre academia e indústria, como é o INESC TEC?
O lema do INESC TEC (a geração do conhecimento científico é a base da inovação) dá a resposta a essa pergunta. Nos tempos que correm a tentação de esquecer isso é muito grande e assiste-se a um proliferar de “teóricos da inovação” e a um desinvestimento na geração de novo conhecimento. Se secarmos a fonte, mais tarde ou mais cedo só restará um deserto de ideias.
Quanto à importância do carácter científico da UOSE para o que é hoje o INESC TEC gostaria de contar uma história. Em 1997, tinha eu começado a minha atividade como investigador bolseiro na UOSE, a permanência da unidade no INESC Porto estava por um fio. Éramos uma unidade demasiado dispendiosa que comprava uns lasers caríssimos e que ainda por cima só publicava umas coisas de vez em quando. Fomos salvos da extinção pelo então Presidente da República, o Dr. Jorge Sampaio, que ao visitar a Unidade por um périplo “pelo que de melhor se fazia em Portugal” nos transformou em “joia da coroa”.
Pouco tempo depois começava o processo de avaliação que iria resultar na atribuição do estatuto de Laboratório Associado ao INESC Porto. O INESC Porto foi em muito beneficiado pela classificação de “excelente” da UOSE neste processo.
Obviamente, o que o INESC TEC é hoje deve-o ao equilíbrio que sempre tentou manter entre as diferentes etapas da cadeia do conhecimento. Hoje em dia, as diferenças entre unidades esbatem-se e praticamente todas têm um bom registo de publicações, prestações de serviços e até criação de spin-offs. Mais do que nunca, o INESC TEC deve manter-se fiel ao seu lema.
4. A coordenação da UOSE refere uma orientação progressiva do Pedro para projetos ligados à valorização económica do conhecimento. Já ponderou uma experiência na indústria?
Dá um gozo muito grande ver uma ideia nossa funcionar e transformar-se em algo de útil para a sociedade. Vi isso acontecer no meu Mestrado durante o projeto Hipower, em que um sensor ótico de corrente que a equipa desenhou de raiz, foi montado e testado no laboratório e finalmente validado com sucesso numa subestação da EDP. Infelizmente, a EFACEC decidiu meter o projeto na gaveta.
Isso foi tão frustrante para mim que mudei de área e o bichinho da indústria ficou latente. Mais recentemente, com o retomar de atividades com a indústria, desta vez no Brasil, confesso que de vez em quando parece que o bichinho quer de novo sambar!
5. Na sua opinião, que papel pode ter o INESC P&D Brasil na afirmação do INESC TEC junto dos países da América Latina?
O INESC P&D Brasil nasceu com a ideia de exportar o modelo INESC Porto para a realidade brasileira. O sucesso desse modelo será a principal via de afirmação. Quando as devidas adaptações forem feitas e o modelo vingar, acho que o INESC P&D Brasil tem potencial para ser uma das instituições de referência na América Latina e não só. Nesse sentido, como membro fundador, o INESC TEC só tem a ganhar.
6.Pedimos que comente a nomeação da coordenação da UOSE, que esteve na base desta distinção.
O Pedro Jorge desenvolveu no mês de fevereiro uma atividade intensa na finalização de uma proposta com o INESC P&D Brasil de dimensão muito significativa. Este foi o último resultado de uma orientação progressiva para projetos em que a vertente valorização económica assume especial significado e que se espera venha a replicar.
No caso do Pedro Jorge esta vertente tem sido equilibrada com a atividade de cariz mais científico, base geradora de conhecimento que proporciona as possibilidades de valorização futura.
De facto, presentemente encontro-me dividido entre dois mundos que não sendo incompatíveis, são difíceis de conciliar. Para que a minha atividade e a da Unidade consigam manter este carácter dual o principal desafio é o da consolidação das equipas de investigação. Para enfrentar este tipo de desafios com a qualidade que se impõe já não bastam bolseiros.
Neste sentido, tenho colocado algum esforço na colaboração com o INESC P&D Brasil por acreditar que com a carteira de projetos certa vai ser possível criar uma base de estabilidade na UOSE que permitira manter uma equipa de nível pós-graduado capaz de manter atividades de geração de conhecimento e de transferência de tecnologia com a qualidade necessária.