Flávio Cruz: o prodígio da programação que a Google quer contratar
No currículo de Flávio Cruz figura um mestrado em Engenharia Informática, um doutoramento em Ciências da Computação em fase de finalização e também uma nega à Google. «No ano passado, um recrutador perguntou-me se queria ir para a Google, para trabalhar num determinado projeto. Não aceitei… mas passado um mês, outro recrutador também veio perguntar-me se queria trabalhar na Google, mas para um projeto diferente. E aí respondi-lhes que estava disponível para trabalhar, se fosse numa modalidade de estágio durante três meses».
A resposta foi afirmativa, e o jovem viseense pôde juntar ao currículo os três meses que passou na Google a ajudar a desenvolver um sistema de alertas de computadores infetados dentro de uma rede informática. Mas a história não termina aqui: em 2015, Flávio Cruz deverá concluir o doutoramento que está a tirar em simultâneo nas Universidades do Porto e Carnegie Mellon, EUA; depois de defender a tese deverá seguir-se a entrada para os quadros da Google - pelo menos, foi essa a ideia que os responsáveis da gigante tecnológica lhe transmitiram depois de concluir uma exaustiva bateria de entrevistas.
«Tudo leva a crer que a contratação deverá ser anunciada na próxima semana», acrescenta o jovem programador.
Durante os três meses de verão que passou nos laboratórios da Google de Zurique, Flávio Cruz centrou os esforços no desenvolvimento de uma base de dados que regista rapidamente as várias ocorrências de segurança detetadas numa rede informática que conecta múltiplos computadores. «Criei uma forma de gravar, ao mesmo tempo, informação digital forense em várias máquinas e acabei por desenvolver uma solução mais rápida que aquelas que tinham sido desenvolvidas com as tecnologias MySQL e Mongo», sublinha Flávio Cruz.
Na Google, o talento do jovem beirão não passou despercebido. Aos 27 anos, Flávio Cruz pode orgulhar-se de pertencer ao restrito clube de pessoas que criaram linguagens de programação. LM (de Linear Meld) foi o nome dado à linguagem que desenvolveu durante a estada na Universidade de Carnegie Mellon, sob a orientação de Seth Goldstein. O trabalho iniciado há dois anos e meio viria a abrir caminho ao título de Best Paper Award na Conferência Internacional de Programação Lógica de 2014 (ICLP 2014), que é considerada o principal evento mundial sobre a matéria. Quando mostrou a nova linguagem aos especialistas da Google, houve mesmo quem admitisse que o LM poderia ter vantagens face a linguagens como o Java ou o C++.
O LM pode não ter a pretensão a ser mais do que «um exercício académico», e Flávio Cruz até admite que poderá «não ser patenteável», mas também acredita que pode revelar-se útil por seguir as regras da lógica e permitir confirmar rapidamente se as diferentes linhas de programação estão ou não erradas… até porque os algoritmos produzidos com esta nova linguagem são concisos. A estas características, Flávio Cruz junta outra que está relacionada com o facto de a LM ter sido desenhada para trabalhar com grafos e poder processar relações estabelecidas entre várias entidades.
O programador português admite que a investigação levada a cabo durante o doutoramento pode produzir frutos nos trabalhos que vier a desenvolver na Google. «Os conhecimentos que obtive com a LM podem ser úteis para tornar mais rápido o acesso aos diferentes sites (referenciados pelo Googgle)», refere.
Conhecedor de linguagens como C++, Python, Lisp, ou Javascript, Flávio Cruz lembra que boa parte do sucesso de uma linguagem de programação depende do marketing e da capacidade de investimento de quem a desenvolve: «Quase todos os dias é criada uma nova linguagem de programação. Há uma disparidade enorme entre o número de linguagens criadas e o número de linguagens que são bem sucedidas».
Exame Informática, 1 de outubro 2014
Além de estudante de doutoramento, Flávio Cruz é ainda investigador no Centro de Investigação em Sistemas Computacionais Avançados (CRACS) do INESC TEC.