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FAUP desenvolve 'Casas em Movimento'

O projecto "Casas em Movimento" nasceu em 2008 fruto de uma candidatura de Manuel Vieira Lopes a um projecto da Universidade do Porto. Passados quatro anos o CEM representou Portugal em Madrid, no Solar Decathlon Europe 2012 e caminha agora em direcção à notoriedade e afirmação do seu conceito. O Construir falou com o mentor e coordenador do projecto.

Chama-se "Casas em Movimento", é um projecto de arquitectura sustentável desenvolvido na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, e representou Portugal no concurso universitário internacional Solar Decathlon Europe, evento que decorreu em Madrid de 14 a 30 de Setembro, e que promove construção e arquitectura de casas sustentáveis com base no aproveitamento da energia solar, bem como no menor uso de recursos naturais.

O projecto de casas sustentáveis, que nasceu em 2008 no âmbito de uma candidatura de Manuel Vieira Lopes, estudante do mestrado em Arquitectura, ao projecto "Lidera" da Universidade do Porto, interage com o meio envolvente e com as variações de luminosidade ao longo do dia, reagindo como um elemento vivo às diferentes posições do sol.

Ganho térmico

De acordo com o mentor e coordenador do projecto, Manuel Vieira Lopes, este movimento de rotação dá-se segundo dois eixos: o movimento de rotação da própria casa, que gira aproximadamente 180° durante o dia de Nascente para Poente; e o movimento de rotação da cobertura, que a reveste, protege e alimenta, através de painéis fotovoltaicos e que potência a criação de sombras no Verão e a incidência de luz no Inverno, dando origem a um ganho térmico entre 60% a 80%. Segundo Manuel Vieira Lopes o movimento de rotação da casa permite ainda "explorar novos conceitos de habitar, recriando diferentes espaços, interiores e exteriores ao longo do dia". Uma versatilidade que está também presente na concepção dos próprios móveis que a compõem, que facilmente se transformam noutros: "o quarto, por exemplo, pode transformar-se rapidamente num escritório, já que a cama se converte numa secretária".

Mas não é só o interior que surpreende, garante o mesmo responsável. Assim, os habitantes destas casas sustentáveis descobrirão um conjunto de outras possibilidades, como por exemplo, o aparecimento de um espelho de água num determinado momento do dia, garante Manuel Vieira Lopes.  O sistema evolutivo e consequentemente a possibilidade de adicionar ou remover módulos, é outra das características do projecto apontada como diferenciadora.  Manuel Vieira Lopes sublinha ainda que na construção da casa se privilegiou a utilização de materiais sustentáveis característicos da indústria portuguesa, tais como a madeira e a cortiça. Em entrevista ao Construir Manuel Viera Lopes explica a origem, o conceito e o objectivo deste projecto.

"É um projeto que se adequa ao actual contexto macroeconómico mundial e com bastante potencial para ser mundial e com bastante potentical para ser internacionalizado"

O projecto nasceu na Universidade do Porto, mas de que forma?

As Casas em Movimento nasceram em 2008, no âmbito de uma candidatura de Manuel Vieira Lopes, estudante do mestrado em Arquitectura, ao projecto "Lidera" da Universidade do Porto. A partir de então, foi constituída a spin-off Casas em Movimento e, em 2010, foi assinado um protocolo entre a FAUP (Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto] e as Casas em Movimento, Lda., que prevê a construção de um protótipo CEM nas suas instalações.

Quem compõe a equipa multidisciplinar que desenvolveu o projecto?

A equipa das Casas em Movimento é coordenada por Manuel Vieira Lopes e é constituída por entidades do sistema tecnológico e científico, nomeadamente a FAUP (Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto), FEUP (Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto], o INEGI (Instituto de Engenharia Mecânica e Gestão Industrial), o INESC Porto (Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores do Porto) e o LNEG (Laboratório Nacional de Energia e Geologia). A estas entidades junta-se, ainda, uma equipa multidisciplinar, constituída por professores e alunos da Universidade do Porto, de áreas que vão desde a arquitectura às várias engenharias, informática e comunicação/marketing. Além disso, também fazem parte da equipa todos os parceiros empresariais que, ao longo do tempo, se foram envolvendo e colaborando no projecto.

Referem na sinopse que as Casas "interagem com as variações de luminosidade ao longo do dia, reagindo como um elemento vivo às diferentes posições do Sol". De que maneira?

As Casas em Movimento interagem com as variações de luminosidade ao longo do dia, já que se movem, aproximadamente 180°, de Nascente para Poente, tal como um girassol, acompanhando a trajectória do Sol. Combinando dois movimentos de rotação (da casa e da sua cobertura, revestida a painéis fotovoltaicos), garante um maior aproveitamento de luminosidade no interior (reduzindo o consumo em aproximadamente 30%), maiores ganhos energéticos a nível térmico (entre 60% a 80%), tendo em conta que o movimento de rotação da cobertura que permite criar sombras no Verão e a incidência de luz na fachada no Inverno, e maior produção de energia eléctrica (cerca 2,5 vezes mais energia do que aquela de que necessita, já incluindo a energia necessária para os sistemas de movimentação).

Ao nível estrutural, como se conseguiu promover a rotação da casa e da cobertura?

Os sistemas mecânicos que permitem a movimentação da casa e da sua cobertura foram desenvolvidos e optimizados pelo INEGI, enquanto os sistemas de automação e monitorização foram desenvolvidos pelo INESC Porto. O sistema de rotação da casa é assegurado por uma estrutura metálica que a sustenta (chassi) e o sistema de rotação da cobertura é assegurado por sistemas de elevação laterais que permitem que esta se mova segundo dois eixos: o de Verão e o de Inverno.

Falam também do aparecimento de um espelho de água no exterior. Como se processa?

O aparecimento do espelho de água é só uma das várias possibilidades de espaços exteriores que se podem criar, em certos momentos do dia, graças ao movimento de rotação da casa. Ou seja, estando a casa implantada numa cota superior, ao mover-se, cria, durante algum tempo, um novo espaço coberto que pode ser aproveitado consoante as necessidades e os gostos dos seus habitantes. Neste caso, o espelho de água, funcionaria não só como espaço lúdico, mas também como parte do sistema de refrigeração da casa.

Duas das características deste projecto são a versatilidade e a mutabilidade. Acham que estas são também características de um novo modo de estar/habitar? Essa poderá ser uma das razões que levará este projecto ao sucesso?

Este projecto é inovador exactamente porque desafia o conceito vigente de habitação tradicional, fixa, estática, perene. Apresenta, pela primeira vez, uma casa que se adapta e que evolui com os seus habitantes e não o contrário. É uma casa com espaços interiores e exteriores vivos, que se recria a cada dia e a cada momento e que, graças ao seu sistema evolutivo, não se torna obsoleta com o tempo. Por isso, sim, estas características diferenciadoras constituirão, com certeza, uma das razões preponderantes para o sucesso do projecto.

As casas podem crescer em altura e comprimento sem limite, ou existe alguma condicionante?

As Casas em Movimento não têm de ser necessariamente uma habitação unifamiliar. Podem, inclusive, evoluir para edifícios de serviços, sendo que uma possível solução passa por apenas o último módulo ter movimento, produzindo energia para alimentar todos os outros.

Depois do Solar Decathlon Europe 2012, o que se segue?

A participação na Solar Decathlon Europe constituiu um primeiro passo crucial para a afirmação do posicionamento e aumento da notoriedade das Casas em Movimento. Permitiu um primeiro contacto com os mercados, do qual resultou várias parcerias com instituições e empresas marcantes, como, por exemplo, a Adene, a REN, a Portilame, a Metaloviana e a Martifer Solar, entre outras. Após a competição, pretende-se continuar a desenvolver soluções e a optimizar o projecto, nomeadamente com a construção do protótipo na FAUP que funcionará, nas palavras do vice-reitor Jorge Gonçalves, como um "laboratório vivo", onde estudantes e professores poderão fazer investigação relacionada com a inovação tecnológica, a eficiência energética, a sustentabilidade e a mobilidade, entre outros.

Estes estudos serão cruciais, inclusive, para medir o impacto das soluções inovadoras propostas pelo projecto CEM. Assim, este "laboratório vivo" estabelecerá a ponte entre o mundo académico e o mundo empresarial, funcionando como uma montra para a tecnologia inovadora que se faz em Portugal e que queremos exportar. O principal objectivo das Casas em Movimento passa, assim, pela sua comercialização e a grande missão pela construção do primeiro aldeamento vivo do mundo.

Como tem sido a reacção e interesse ao projecto?

O feedback obtido das diferentes acções de divulgação e promoção do projecto, quer a nível nacional, quer a nível internacional, tem sido muito positivo: há uma grande curiosidade e interesse em torno das Casas em Movimento e a mensagem principal que nos tem sido transmitida é que, de facto, as pessoas, nomeadamente profissionais da área, acreditam que é um projecto que se adequa ao actual contexto macroeconómico mundial e com bastante potencial para ser internacionalizado, até porque é um projecto com propriedade intelectual e industrial, já com várias patentes atribuídas.

Construir, 4 de outubro de 2012

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