Esta loja é muito à frente
Da montra ao provador, tudo vai mudar no momento de fazer compras. A loja do futuro Made in Famalicão mostra como a tecnologia está a revolucionar o consumo e até o gesto de admirar uma montra pode ter consequências.
Tudo começa ainda antes de se entrar na loja, no momento em que o consumidor olha simplesmente para a montra e a tecnologia reconhece o seu sexo e faixa etária, vigia o tempo que passa a olhar para uma peça de roupa e pode, até, sugerir-lhe alguns artigos.
Já no interior do espaço comercial, há prateleiras inteligentes e interativas com antenas e um monitor onde aparece toda a informação disponível sobre a peça de roupa escolhida através de etiquetas com a tecnologia RFID. Mas quem quiser, pode avançar logo para a cabine.
Aí, com a ajuda de uma assistente virtual sempre ao dispor, o consumidor pode consultar num ecrã interativo toda a oferta disponível, selecionar a cor e o tamanho pretendido e fazer a prova virtual num espelho mágico. Se gostar da peça escolhida, o sistema permite que se faça uma reserva imediata, mas se for necessário algum ajuste pode aproveitar-se um scanner 3D pronto a recolher 400 pontos de medida para definir as alterações pedidas, com precisão.
Lojista ganha novas armas
Tudo isto pode ser útil também para quem está do outro lado do balcão. Desde logo, poder controlar o tempo que o potencial cliente dedica a admirar uma peça de roupa, saber o seu sexo e idade, abre as portas à publicidade dirigida.
"O gestor do espaço comercial tem a possibilidade de lançar de imediato uma campanha que até pode estar previamente programada, dirigida àquele perfil de cliente, apresentando, por exemplo, uma promoção para camisas quando entra um homem de 50 anos", explica Ana Ramôa, do departamento de tecnologia e engenharia do CITEVE, o centro tecnológico da indústria têxtil, que desenvolveu este projeto durante três anos, em parceria com outras entidades.
Para o resultado final, orçado em mais de 800 mil euros, contribuíram 1300 inquéritos a consumidores, que permitiram ficar a conhecer o que gostavam de ter e as dificuldades sentidas no momento de comprar roupa, e conversas com retalhistas nacionais como a Zippy, Modalfa, Quebramar ou Lanidor, e a colaboração da Tetra Ibérica, Creative Systems, Centro de Computação Gráfica, Ubising, INESC TEC e APR Management Systems.
Controlo total
Na base do projeto, há tecnologias que já existiam no mercado, mas foram desenvolvidas para dar corpo à ideia. Na solução encontrada, tudo está pensado para ajudar as marcas a aproximarem-se dos clientes. Um dos exemplos é a possibilidade de usar a tecnologia para reunir informações úteis à gestão da loja e afinar a oferta ao mercado, através de coisas simples como o indicador sobre o número de vezes que uma peça vai ao provador e não é escolhida.
"Se um artigo é provado 40 vezes e nunca é comprado, isso pode indicar, por exemplo, um problema de fitting. Além disso, ao conhecerem as medidas exatas dos clientes, através do scanner 3D, os retalhistas também podem otimizar os seus tamanhos ", explica Ana Ramôa.
As medidas tiradas pelo scanner podem, ainda, ser guardadas no cartão de cliente e usadas depois, através da tecnologia RFID, para ajudar a selecionar as peças mais adequadas a cada pessoa em próximas visitas.
Dar o salto para o presente
A Loja do Futuro pode ser visitada sob marcação no Citeve e está pensada de forma a poder ser alterada em função dos desejos de cada retalhista, sempre com o duplo objetivo de "tornar o processo de compra mais atrativo para os consumidores, ajudando a induzir o consumo, e gerar informação útil para o gerente de loja", como explica Ana Ramôa.
Cada projeto terá o seu orçamento, em função da tecnologia pretendida, das funcionalidades a disponibilizar e da quantidade de lojas a fornecer, mas o CITEVE já tem recebido visitas de potenciais interessados, designadamente de Espanha, e espera poder dar o salto para o presente, para o mundo das lojas reais, a curto prazo.