Alexandra Marques: Fora de Série - BIP 139
alexandra marques
1. Qual é a sensação de ser eleita “Fora de Série”, tendo integrado o INESC TEC há menos de dois anos?
Fico muito contente. É o reconhecimento do meu esforço pessoal e também fruto do forte apoio que tenho tido dos meus colegas e coordenadores da Unidade de Engenharia de Sistemas de Produção (UESP).
2. Como surgiu a oportunidade de colaborar com a UESP/INESC TEC?
Comecei a colaborar com a UESP em novembro de 2011 no contexto do projeto Produtech PSI- Novos Produtos e Serviços para a Indústria Transformadora (http://www.produtech.org/). Na altura estava a terminar o meu doutoramento em gestão de operações florestais e este projeto oferecia a possibilidade de aprofundar conhecimentos em gestão da produção e ferramentas de simulação de sistemas de produção.
3. O que motiva uma doutorada com experiência na indústria a integrar uma instituição como o INESC TEC?
Motiva-me a possibilidade de aplicação da investigação em contexto industrial. Gosto do desafio de investigar problemas reais, tipicamente complexos e pouco definidos, com vista a encontrar soluções que de facto possam gerar valor acrescentado para as empresas. O INESC TEC conjuga atividades de investigação científica e consultoria em estreita colaboração com o tecido empresarial e por isso proporciona o contexto ideal para o desenvolvimento da minha atividade.
4.Qual o valor acrescentado que o INESC TEC oferece às empresas com as quais trabalha?
Na minha perspetiva, as empresas recorrem à consultoria do INESC TEC quando necessitam de serviços ou soluções inovadoras, com fundamento científico, adequadas às suas necessidades particulares. Essas necessidades por vezes estão pouco formalizadas, pelo que o INESC TEC tem aí o papel importante de moderar a discussão entre os vários organismos da empresa com vista a gerar um entendimento consensual sobre os problemas a resolver. A empresa cliente é envolvida no processo de construção da solução e assim poderá desenvolver as competências para inovar (per si). Julgo que a dinamização da inovação de base científica é um contributo importante para o aumento da competitividade das empresas.
Nos setores económicos onde o INESC TEC tem vindo continuamente a atuar (p.e. calçado, metalomecânica, agro-florestal), poderá antecipar-se às empresas e liderar iniciativas de investigação de grande ou média escala, com vista a desenvolver novos processos ou tecnologias para responder a necessidades transversais atuais e futuras.
5. A Alexandra preparou a candidatura do projeto FOCUS, um projeto europeu de grande dimensão, que foi recentemente aceite. Pode descrever, em traços gerais, os objetivos deste projeto estratégico para a UESP/INESC TEC?
O projeto FOCUS visa melhorar a produtividade e sustentabilidade das empresas das cadeias de abastecimento de base florestal através de novos mecanismos de planeamento e controlo das operações que estão a ser executadas no terreno.
A indústria florestal tem vindo a desenvolver tecnologia adequada aos seus longos ciclos de obtenção da matéria-prima, produtos com baixas margens, cadeias de produção fragmentadas entre múltiplos agentes. Existem atualmente vários tipos de tecnologias para recolha de informação durante a execução das operações, mas estas não estão integradas entre si e não contribuem como um todo para a previsão do desempenho futuro das cadeias de abastecimento. Por exemplo, atualmente os camiões de madeira já têm um sistema de GPS embarcado de modo que é possível saber quando vão ocorrer atrasos na entrega de madeira na fábrica. Através da plataforma FOCUS, essa informação vai ser automaticamente utilizada para replanear, de forma ótima, as operações de receção fabril e exploração florestal e ainda gerar, de forma tão automática quanto possível, as instruções para as máquinas e operadores no terreno.
6. De que forma a sua experiência como consultora na indústria nacional e internacional contribuiu para o sucesso desta proposta?
A experiência de consultoria permitiu-me conhecer os problemas transversais das empresas agroflorestais relacionadas com a gestão de cadeia de abastecimento. Ao longo dos anos, fui conhecendo também empresas e centros de investigação com experiência em novas tecnologias para a gestão de operações. A ideia de um projeto integrador de grande escala foi tomando forma e ganhando apoios até que surgiu a oportunidade de o concretizar.
7. O desafio seguinte é assumir a coordenação do projeto FOCUS. Está entusiasmada com esta nova fase?
Sim, o entusiasmo é grande. A coordenação de um projeto que reúne 12 parceiros de 6 nacionalidades, várias entidades como utilizadores finais e um orçamento superior a 4 milhões de euros tem inúmeros desafios. Mas acredito que o trabalho vá ser facilitado porque por um lado já existe no consórcio alguma experiência de trabalho conjunto e por outro lado a equipa da UESP tem grande experiência em participação em projetos europeus de grande dimensão.
8. Imagina-se a seguir uma carreira puramente académica?
Nesta área da gestão de operações é muito frequente consolidar a atividade letiva com a investigação científica e consultoria. Esse é aliás o contexto de trabalho de vários dos colegas do INESC Porto (entidade coordenadora do INESC TEC) e é também no qual eu me revejo.
9. Que conselhos daria a um investigador em início de carreira ?
Olhar para fora (da instituição, do país, da área de trabalho…), apostar no networking e aprender com os melhores: a investigação atualmente é feita à escala internacional.
Persistência e criatividade para aproveitar as oportunidades da melhor maneira. É certo que se pode perder (momentaneamente) o foco e gasta-se muito tempo a fazer propostas com baixas probabilidades de sucesso… mas quando se consegue, vale a pena.
10. Terminaremos este breve questionário pedindo que comente a sua nomeação, feita pela coordenação da unidade a que pertence, a UESP.
“A Alexandra Marques fez, nestes últimos meses, um excelente trabalho, ao liderar e coordenar a elaboração de uma candidatura a um projeto europeu, de grande dimensão, aprovado recentemente pela Comissão Europeia. Este projeto, que decorrerá ao longo dos próximos dois anos e meio, é, pela sua natureza, pelo consórcio envolvido e pelos resultados esperados, estratégico para a UESP.
Acresce que esta atividade foi desenvolvida em paralelo com uma exigente participação em vários projetos da iniciativa PRODUTECH, e com a produção de um artigo submetido a uma revista internacional e a participação, com comunicações, em conferências científicas.”
Sabe bem sentirmos o nosso trabalho reconhecido e valorizado. Isso dá mais motivação para continuar a trabalhar!