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Académicos atraem mundo empresarial

As spin-offs académicas e as parcerias entre empresas e universidades estão a refrescar o mundo empresarial e a desenvolver a inovação aberta. A fórmula do Silicon Valley está ao virar da esquina.

A Ubisign, spin-off ligada à Universidade do Minho que desenvolve um software de gestão de conteúdos para ecrãs informativos em espaços públicos, nasceu de um concurso de ideias e cedo enfrentou dificuldades em obter crédito e em cativar investidores de capital de risco. Em 2006, "a questão do empreendedorismo não estava tão na moda como está hoje", lembra Pedro Machado, CEO da empresa.

A alternativa foi recorrer à rede de conhecimentos e bater à porta de três empresas de software. Perante duas respostas positivas, a Primavera Software foi eleita para sócia minoritária, uma posição que entretanto evoluiu para maioritária.

Hoje, a Ubising tem cinco funcionários e está nas instalações da Primavera Software em Braga, partilhando alguns departamentos com a casa-mãe. "Adquirimos know how de gestão, passámos a fazer parte de uma máquina já montada e ainda nos abriu portas no mercado".

A Ubisign está no top 16 das spin-offs académicas lusas com melhor desempenho num relatório de progresso 2007/ 2012 da Univcrsity Technology Enterprise Network (UTEN) , que avaliou fatores como o volume de vendas per capita e as operações comerciais voltadas para a internacionalização. A empresa, que fechou 2012 com um volume de vendas de licenças de software de 250 mil euros, já chegou a Angola, Moçambique e Brasil.

Apesar do crescimento, o CEO da Ubisign vinca que a ligação à academia é para manter, pois "facilita muito o acesso à inovação" de uma forma menos dispendiosa. Não existe um levantamento de todas as empresas que brotam das universidades, mas José Manuel Mendonça, diretor científico da UTEN Portugal, crê que existem milhares, se contarmos com "spin -outs", empresas de investigadores e engenheiros lançadas sem ajuda da academia.

A realidade das spin offs é recente e cresceu de forma galopante devido a programas de incentivo. Para Luís Mira da Silva, docente no Instituto Superior de Agronomia e presidente da Inovisa - Associação para Inovação e Desenvolvimento Empresarial, incubadora de empresas ligada àquela instituição, "bons exemplos com elevada capacidade de crescimento
não são fáceis de encontrar".

"Isto só começa a funcionar a sério quando houver uma cadeia de valor montada e que não passe só pelas incubadoras e boa vontade. Falta uma estrutura de aceleração que consiga levar as empresas para outro patamar e falta capital para financiar", diagnostica Eurico Neves, fundador da Inovamais e da Innova Europe e especialista em empreendedorismo e inovação tecnológica.

O também consultor da Comissão Europeia para a Inovação justifica que na Europa, ao contrário do que se passa nos Estados Unidos, a palavra capitalista é um "insulto", existindo dificuldade em "reconhecer o valor do capital no crescimento da economia, na criação de emprego, e no empreendedorismo". "Ao final de um ano ou dois, na maior parte dos casos as empresas morrem porque não têm por onde crescer" , reforça o autor dos livros Da Empresa
Industrial à Empresa Inovadora
e Inovar sem Risco.

Potenciando o trabalho académico

Foi precisamente o facto de um projeto universitário já não ter mais por onde crescer, com dificuldades de comercialização e de contratação, que fez nascer a Edubox em 2010. Dois anos depois, a spinoff, incubada na Universidade de Aveiro, arrecadou o prémio de "Melhor Empresa Start-Up", na II Gala Anual do Empreendedorismo, promovida pela Associação Portuguesa de Parques de Ciência e Tecnologia - TecParques.

Entre os softwares que já fez na área da educação encontra-se a PEA - plataforma de ensino assistido, um sistema de gestão escolar usado por mais de 60 municípios e por milhares de professores e alunos, e que lhe permitiu chegar aos mercados espanhol, brasileiro, cabo-verdiano e moçambicano. Só no ano passado, a spin-off, que soma 22 funcionários, teve um volume de vendas de dois milhões de euros.

Segundo Amaral Carvalho, administrador da Edubox S.A., a "proteção" da universidade, com acesso a recursos da academia, tornou o processo mais fácil. "Há produtos que estamos a comercializar e outros que estão em desenvolvimento que têm uma componente muito forte de ligação à universidade e à sua supervisão". A empresa quer ainda continuar a ser um veículo para lançar no mercado produtos da universidade para os quais não faz sentido criar uma spin-off e cujo potencial não deve ser perdido. Os contactos com o mercado têm sido facilitados porque dois dos acionistas da Edubox são empresas já consolidadas. "De outra forma o processo é complicado, porque não estamos preparados para essa componente", admite Amaral Carvalho.

Contudo, o administrador conta que "foi muito fácil" conquistar esses dois acionistas, "porque eles conseguiram perceber que lhes estava a ser dada a possibilidade de fazerem parte de uma empresa que eles reconheceram que iria ter sucesso pelos produtos que estava a lançar, por estar associada a uma universidade e por já ter produtos no terreno com algum êxito".

Académicos atraem mundo empresarial

Prós e contras das estruturas de apoio

Eurico Neves reconhece benefícios no prolongar da ligação da spin-off à universidade, mas considera que, por vezes, essa via tem um "efeito contrário", já que a empresa sente-se confortável e protegida e não se aventura no mercado.

Já Luís Mira da Silva cita estudos para garantir que a ligação à academia diminui o risco de uma spin-off falir. Para o professor, "a marca das universidades tem valor" e representa um "fator de diferenciação e de credibilidade". A experiência na Inovisa diz-lhe que a coexistência de empresas mais maduras com spin-offs recentes leva à entreajuda e a sinergias.

O presidente da Inovisa, que "terá sido a primeira" incubadora setorial em Portugal, é um defensor da criação de clusters, desenvolvendo um setor numa região e envolvendo múltiplos atores, o que facilita o acesso aos mercados, como acontece nas áreas da eletrónica e informática em Silicon Valley, nos Estados Unidos.

Também Eurico Neves defende que os clusters configuram boas estruturas de apoio, mas prefere falar em cidades em vez de regiões e dá o exemplo de Gaia: "criou parques tecnológicos e apoio para a criação de empresas e teve o cuidado de estimular programas de compras públicas".

José Manuel Mendonça, também presidente do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores do Porto (INESC Porto), igualmente favorável a esta dinâmica, considera, porém, que "no mercado global, com ou sem cluster, as empresas de valor vão sobreviver e internacionalizar-se".

Prémios não convencem empresários

A Waydip nasceu em 2010. Ainda não começou a trabalhar no terreno e já arrecadou seis prémios nacionais e interna cionais, entre os quais o reconhecimento, pela Kauffman Foundation, como uma das 50 start-ups mais promissoras do mundo. Dois mestres em Engenharia Eletromecânica, Francisco Duarte e Filipe Casimiro, desenvolveram uma tecnologia de conversão de energia do movimento em eletricidade, patenteada a nível mundial. O sistema, que aproveita a energia emética de peões e veículos para produzir energia elétrica, encontra-se em testes pela primeira vez em ambiente real, numa passadeira do centro da Covilhã e num dos acessos ao centro comercial Colombo, em Lisboa.

Fica no parque tecnológico da cidade, mas os cinco engenheiros, formados na Universidade da Beira Interior, (UBI) que agora compõem a spin-off passam a maior parte do tempo na instituição de ensino superior. "Usamos laboratórios para desenvolvimento de protótipos" e "há trabalhos cm conjunto com professores no âmbito do nosso projeto e que serve para a investigação deles", conta Francisco Duarte. O auxílio que a universidade tem dado a esta ligação é para manter, garante.

Após a conquista do Prémio Inovação EDP Richard Branson 2010, a elétrica tem apoiado a Waydip, através da disponibilização de instalações em Lisboa e de contactos de potenciais clientes. A spin-off já contou com investimentos de capital de risco. Mas crescer não é fácil.

Múltiplas oportunidades para empresários

"A spin-off tem um grau de incerteza elevado e as grandes empresas e investidores tendem a querer investir numa fase em que a empresa já tem um produto consolidado e já fez as primeiras vendas" , ou seja, quando colocam de lado "riscos de a tec nologia falhar e riscos de o mercado não agarrar", explica José Manuel Mendonça.

O diretor científico da UTEN Portugal fala ainda do problema de as grandes firmas não terem interlocutores que conheçam as universidades e o que de melhor se faz lá. É por isso que o programa da UTEN, que até agora tem apoiado as universidades no desenvolvimento de spin-offs, com base na experiência norte americana, inclusive com estágios nos Estados Unidos - sendo até considerado por um estudo independente pedido pelo Governo "o programa bandeira" -, está a sofrer uma remodelação. O objectivo é que a UTEN realize o mesmo trabalho, mas do lado das spin-offs de base tecnológica, o que, na visão de José Manuel Mendonça, acaba por ser um "presente envenenado", já que o processo de transição está a arrastar-se.

Na agenda está também a criação de um "portefólio integrado de tecnologias do lado das universidades" que permita às empresas encontrarem as oportunidades.

Uma outra via para quando a empresa quer inovar, e com "menor risco", é comprar às universidades "consultadoria avançada e especializada, baseada em conhecimento científico". Segundo o presidente do INESC Porto, atualmente as universidades conseguem mais dinheiro através desta via do que pela criação de spin-offs.

A inovação aberta começa, lentamente, a ceder espaço à investigação feita em gabinetes fechados dentro das empresas. Porém, Eurico Neves nota "quem aparece sempre como os grandes investidores são os bancos". Para potenciar esta proximidade, defende, é necessário "um sistema fiscal mais atrativo" e uma aposta em "parcerias entre capital público e privado".

Para o especialista, as spin-offs mais atraentes para investir são as de "investimento e equipamento reduzido" , como tecnologias da informação, embora a biotecnologia de informação, mais dispendiosa, seja igualmente "um mercado promissor".
Já Luís Mira da Silva prefere saúde e genética, biomateriais e nanotecnologia e tecnologias de informação, frisando que a inovação c sempre promissora.

Exame, abril de 2014

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