A inovação científica multidisciplinar como arma contra a crise
Vivem-se tempos exponenciais. Esta afirmação é conhecida no contexto da globalização baseada nas tecnologias de informação e comunicação e aplica-se também na área da investigação científica.
Na última década tem-se multiplicado o número de novos doutorados, métrica em que Portugal se tem destacado. É certo que a globalização proporcionada pela internet facilitou de tal forma o acesso à informação, que proporcionou um nível de interação entre investigadores sem precedentes. Nunca a investigação científica e o desenvolvimento tecnológico (IC&DT) tiveram um papel tão importante na sociedade como nos dias de hoje. Governos de todo mundo (incluindo o português) têm atribuído um peso orçamental crescente à ciência e tecnologia, quer através dos financiamentos às instituições do sistema científico e tecnológico (SCT), bem como na concessão de financiamentos para doutoramento/pós-doutoramento e projetos de IC&DT, onde se destaca o crescente papel das empresas, como agentes potenciadores da criação de valor económico a partir do conhecimento científico gerado.
Um fator determinante para a decisão de um jovem que ingressa numa carreira de investigação prende-se com as perspetivas de futuro. Em 2006, quando iniciei o meu doutoramento no INESC TEC (na área de processamento digital de sinal em sistemas de comunicações óticas), não se imaginava a crise financeira e económica que se avizinhava, nem as consequentes dificuldades que as empresas iriam enfrentar. Desde então,foram as inúmeras empresas que diminuíram as suas vendas, enfrentaram restrições de crédito significativas e tiveram de reduzir os quadros de pessoal. Os atuais níveis de desemprego recorde falam por si.
Porém, as crises são muitas vezes acompanhadas de oportunidades. Numa altura em que o ingresso de docentes no meio académico é muito restrito, e o fenómeno de "fuga de cérebros" para o estrangeiro é uma realidade, os novos doutorados procuram outras oportunidades, como a criação de novos negócios de alto valor acrescentado, dos quais são exemplo as empresas FiberSensing, Tomorrow Options, MOG, Xarevision e Tecla Colorida, entre outros tantos casos de sucesso que resultaram de investigação levada a cabo no INESC TEC.
Por outro lado, o licenciamento de tecnologia do SCT para o tecido empresarial representa uma tendência crescente, a qual acredito ter um papel fundamental no aumento das nossas exportações e na criação de riqueza económica. As empresas que inovam estão bem preparadas para ultrapassar os períodos de crise. EFACEC, Softi9 e Medidata são alguns exemplos de parceiros industriais que inovaram, incorporando tecnologia desenvolvida no INESC TEC, para se tornarem mais competitivas no mercado externo.
Quando terminei o doutoramento em 2011, encontrei a oportunidade de contratação pela Unidade de Telecomunicações e Multimédia (UTM) do INESC TEC. A minha atividade tem-se focado na conceção de propostas de projeto que valorizem junto do tecido empresarial os resultados científicos existentes, materializáveis em contratos de I&D e consultoria. Tenho contribuído simultaneamente na coordenação de projetos e orientação de alunos. Enquanto contratado doutorado, sou um dos elementos de uma equipa multidisciplinar da UTM que se constituiu no sentido de criar uma massa crítica responsável por potenciar competências complementares e estratégicas na criação e acompanhamento de projetos, produtos e serviços de alto valor acrescentado, prestando o suporte e seguimento temporal que os clientes ambicionam.
A multidisciplinaridade não se tem restringido à UTM, uma vez que muitos projetos necessitam de competências de várias áreas. A colaboração da UTM com as áreas da robótica (ROBIS), sensores (UOSE) e energia (USE) tem sido crescente, e os resultados positivos já se começaram a fazer sentir. No entanto, o INESC TEC incorpora muitas mais áreas de atuação e parece-me que a sua crescente colaboração deve ser perseguida no futuro.
*Colaborador da Unidade de Telecomunicações e Multimédia (UTM)